quarta-feira, 13 de abril de 2011

Seminário discute linguas e culturas indigenas



No período de 8 a 10 de setembro de 2010, aconteceu, na Faculdade de Educação da UFMG, o “Seminário Temático II: Políticas Linguísticas”, organizado pelo Curso de Formação Intercultural para Educadores Indígenas da UFMG (FIEI-UFMG), que contou com a presença dos palestrantes Ruth Moya (pedagoga e linguista); Anari Pataxó, da Bahia (graduada em Letras pela Universidade Federal da Bahia); Pajé Agostinho Kaxinawá, do Acre; Manoel Xerente, de Tocantins (professor da língua akwe no Ensino Fundamental e graduando em Ciências da Linguagem na Universidade Federal de Goiás); Edvaldo Xerente, de Tocantins (graduando em Comunicação Social na Universidade Federal de Tocantins) e Selvino Kahngag, do Rio Grande do Sul, criador do site www.kanhgag.org. O Seminário contou também com a participação de alunos e professores do FIEI-REUNI e do FIEI-PROLIND, além de outros convidados.
A abertura foi marcada com o canto do cineasta e professor do Acre Issak Kaxinawá, que invocou os espíritos da floresta para abrir os caminhos e trazer força para a nação.

A força do hatxa kuin: a língua verdadeira

A espiritualidade indígena também esteve presente no “Seminário Temático II: Políticas Linguísticas”.
O pajé Agostinho Muru Kaxinawá, do povo Huni Kuin (que quer dizer: “povo verdadeiro”), contribuiu com seus conhecimentos e sua experiência de vida, pois aprendeu com seus antepassados a sabedoria de curas através das ervas. Sua preocupação em manter as tradições de seu povo deu início ao seu projeto chamado Livro vivo.
Em 1985, ele começou a catalogar as ervas curativas e suas funções. Este projeto se expandiu e hoje o alvo é manter um jardim vivo dentro das terras Kaxinawá. Nesse jardim, serão reunidas todas as ervas registradas por Agostinho. O pajé também vem registrando em vídeo e áudio os cantos curativos e as rezas Kaxinawá. O Livro Vivo registra todas as informações na língua materna Kaxinawá e também em português.
O pajé também obteve, em suas viagens pelo Brasil, conhecimento da medicina japonesa, como acupuntura, nichipan e massagem.
Ele já curou muitas pessoas: “Doença de índio as ervas curam, as doenças de branco, medicina do japonês cura”, diz Agostinho, quando questionado a respeito da mistura de técnicas  de curas.
O projeto Livro vivo, mais que curar o corpo, é um agente de cura para a cultura Kaxinawá. Ele fortalece a saúde cultural e a educação do povo Kaxinawá.


Revitalização das línguas indígenas: Patxôhã, Língua Pataxó

Anari Pataxó, que também apresentou sua palestra no Seminário, é graduada em Letras, faz mestrado em Estudos Étnicos Africanos na UFBA e tem como foco de pesquisa a retomada da língua Pataxó. Ela desenvolveu pesquisa que envolveu um grupo de professores indígenas e as pessoas mais velhas em várias aldeias Pataxó na Bahia. Essa pesquisa foi desenvolvida em 1998, quando houve o registro da cultura e da língua Pataxó, com objetivo de conhecer e documentar a história desse povo. Graças a essa pesquisa, foi produzido um vocabulário com 2.500 palavras, e hoje os professores trabalham a língua nas escolas do povo Pataxó.

Língua Xerente: akwe

Durante o Seminário, também Edvaldo Srekmõrõte, índio Xerente do estado de Tocantins, fez palestra e também ministrou oficina sobre a língua akwe, ao lado de Manoel Sirmãre, também do povo Xerente de Tocantins.
Edvaldo saiu aos 12 anos de idade para estudar fora da aldeia. Durante esse período, sofreu muito  com a falta de recursos e por ter dificuldade para falar o português. Ele concluiu o Ensino Médio em 1987 e, logo depois, fez um curso técnico em Agronomia. Atualmente, é estudante do curso de Comunicação Social.
Em sua palestra, ele falou da sua trajetória e contou como é a vida e a escola na sua comunidade. Edvaldo Srekmõrõte destacou o fato de que nas escolas do povo Xerente, o português só é introduzido no Ensino Fundamental depois que os alunos completam nove anos de idade. As crianças são, primeiro, alfabetizadas na língua akwe, e só posteriormente os professores lecionam na língua materna akwe e no português.
A palestra despertou muito interesse dos alunos, principalmente os da etnia Xakriabá, já que os Xerente e Xakriabá no passado constituíam um mesmo povo e falavam uma mesma língua. Hoje em dia, os Xakriabá e Xerente vivem em grupos separados.

Equipe responsável: Simone, Ariema Braz, Dirauy Marcelino, Dirauira Santos, Jusnei Souza.

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